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Adictos da dor

  • Leonardo Budal
  • há 5 dias
  • 2 min de leitura

Viver na expectativa de suportar uma dor aguda, para simplesmente manter o sentimento de vitória sobre a fraqueza, é de fato uma tortuosa e indisciplinada jornada. Nos sentimos corajosos quando os tempos são de paz, porém são poucos aqueles que se mantêm firmes em momentos difíceis. Rondar a grande coluna vertebral que sustenta toda uma estrutura de sofrimento constante é um risco a ser tomado. A dor enche os corações dos fracos de desespero e impõe maneiras débeis de resolução de problemas. Sempre há uma forma melhor de superá-la, entretanto buscamos sempre o caminho mais difícil. É como se precisássemos manter hábitos masoquistas para que nossos pulmões continuem funcionando. Não há sensação capaz de prender nosso espírito e corpo alertas como a dor.

Não só a dor física compõe o hall do sofrimento contínuo como forma de consciência. As feridas emocionais doem tanto ou mais que machucados no corpo. Nosso cérebro faz coisas incríveis: pensa em maneiras criativas de resolver problemas e é capaz de realizar cognições singulares no reino da Terra. Entretanto, sua maior força se torna fraqueza quando os hormônios entram em ação. Então, em um passe de mágica, dor. Sensação estranha, esse flagelo emocional que atormenta o cérebro. Causado por si próprio, para ele mesmo, o sofrimento da emoção arrasa e nos transforma em seres completamente irracionais. E pior: acabamos nos viciando em senti-lo, pois, de alguma forma, parece certo esse sofrimento.

O ponto de virada para essa teoria do ciclo doloroso está no fato de voltarmos a senti-lo, pois nos tornamos dependentes dele. É a sensação que nos move. O ódio de presenciá-lo e o prazer de superá-lo nos fazem seguir em frente. Fingimos que está tudo bem. Negamos nossa própria dor; nossa maneira adicta de conviver com ela nos limita a permanecer em um lugar sombrio, cheio de movimentos dolorosos. Pretendemos um dia não sentir mais nada? Talvez em um mundo perfeito. Mas, neste mundo movido por ela, onde todos nós, viciados, permanecemos encolhidos nos becos escuros, morremos um a um de uma overdose qualquer.

Tape os olhos e pense que é a dor que move o globo. Mas tente sempre alcançar a incrível sensação de viver em um planeta onde não precisamos sentir nada. Livrar-se de qualquer vício é um desafio. Exige dedicação, imponência e desejo de mudança. A transformação vem aos poucos, de forma vagarosa e temerosa, mas, com poder suficiente,

talvez as mudanças venham para ficar.


Pouca fé no mundo, pouca fé em nós
Pouca fé no mundo, pouca fé em nós

Leonardo Budal

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